Arraiá Bnews: Festa Junina surgiu em Portugal? Entenda relação dos festejos com o Nordeste





 Festa tradicional brasileira começou do outro lado do Atlântico, em Portugal.  |   Bnews - Divulgação Ilustrativa /pexels


Junho chegou e, como tradicionalmente ocorre na região Nordeste, o São João está no centro das atenções. A influência católica dá o nome à festa dos Santos Populares, mas originalmente as comemorações de juninas aconteciam em regiões de tradições pagãs para celebrar o início do verão, a época de colheitas, da fartura e da fertilidade.


Uma das celebrações mais queridas e tradicionais do Brasil, têm suas raízes profundamente entrelaçadas com as festividades populares de Portugal. Esta conexão histórica e cultural se refletiu de maneira intensa no Nordeste brasileiro, onde a festa ganhou cores, sabores e sons próprios, transformando-se em uma das principais manifestações culturais da região.

Origem Portuguesa das Festas Juninas

As festas juninas têm suas origens na Europa medieval, especialmente em Portugal, onde eram chamadas de "Festas Joaninas" em homenagem a São João Batista. Estas celebrações, realizadas no mês de junho, coincidiam com o solstício de verão no hemisfério norte, uma época de abundância nas colheitas e de agradecimento aos santos católicos São João, São Pedro e Santo Antônio, como explica o historiador Manuel Passos, Mestre em História e Patrimônio pela Universidade do Porto, Portugal: “As festas juninas são celebrações das colheitas, portanto, de origem rural, chegou ao Brasil através dos colonizadores portugueses, que mantinham esta tradição desde o século XIII.”

Em Portugal, as festas juninas eram marcadas por fogueiras, danças, músicas e comidas típicas, elementos que foram trazidos pelos colonizadores portugueses ao Brasil. Os arraiais, que são os locais onde se realizavam essas festas, eram decorados com bandeirinhas e balões coloridos, e as pessoas se reuniam para celebrar com danças tradicionais, como as quadrilhas, e pratos típicos.

“Houve um processo de estilização, adequando as colheitas locais. Como estas comemorações são fruto das colheitas, e por serem celebrações rurais, isto se refrete também, na forma como se manifesta no Brasil. Enquanto em Portugal se come sardinhas assadas com ginja, no Brasil, principalmente na região Nordeste, têm uma variedade de comidas: milhos assados e cozidos, amendoim cozido, bolos de aipim e milho, canjica, pamonha, queijo do reino etc. Também uma infinidade de licores, distinguindo os de jenipapo e maracujá.”, ressalta o historiador.

A transformação das festas juninas no Nordeste brasileiro

Quando essas tradições portuguesas chegaram ao Brasil, foram rapidamente incorporadas e adaptadas pelas populações locais. No Nordeste, as festas juninas ganharam uma nova vida, se adaptando às peculiaridades do clima, do solo e da cultura nordestina. O São João em Portugal possui várias semelhanças com a festividade brasileira.

“Em Portugal a melhor comemoração de Santo Antônio é em Lisboa, enquanto, a melhor celebração do São João é no Porto. Milhares de balões deixa o céu multicolorido, são alimentados com buchas de parafinas, que são ecologicamente corretas. Meia-noite a ponte D. Luis I, é fechada nos dois andares e nos dois lados, para a queima dos fogos, que é o ponto alto das comemorações. Na tradição se utilizava o alho francês (alho poró), como símbolo fálico, em que era utilizado para bater na cabeça do outro como ato de sociabilidade. As Mulheres utilizavam um ramo erva cidreira, para arremessar no outro. Nos anos 70 do século passado, foi introduzido os martelos plásticos, em substituição ao alho poró. Normalmente as pessoas colocam-se em suas residências um vaso de manjericão, que se associa a boa sorte.”, contou o historiador que morou em Portugal por um ano e dois meses.

No Nordeste brasileiro, as festas juninas se tornaram uma celebração ainda mais grandiosa, com características únicas. A quadrilha, por exemplo, evoluiu e se tornou uma dança de grande importância cultural, com suas raízes na França do século XVIII, mais precisamente nas festas da nobreza francesa conhecidas como "quadrilles" (très chique!). Essas festas eram uma espécie de dança de salão, que se popularizou em todo o mundo e chegou ao Brasil no século XIX. No Brasil, adquiriu passos e músicas próprias.

O forró, gênero musical que nasceu no Nordeste, se tornou a trilha sonora oficial das festas juninas, com ritmos animados e letras que retratam a vida no sertão.

Um dos aspectos que é ideia nossa é a encenação do casamento cômico, satirizando os casamentos forçados que eram comuns no passado quando a noiva ficava grávida antes das núpcias.

Quadrilhês

Apesar de cada região do país ter feito suas adições e adaptações particulares à festividade, ainda foi mantido os comandos passados aos dançarinos pelo marcador da quadrilha que são de origem francesa.

“Importamos a quadrilha junina da França. Au revoir, olha a chuva (referente ao período chuvoso) que aconteciam as festas! Sofreu um processo de estilização”, destacou o historiador Manuel Passos.

O marcador anuncia quais são os próximos passos da coreografia. Aqui fica evidente que a Festa Junina é de origem francesa, a questão é que os termos passaram por um abrasileiramento, veja:


• Alavantú - En avant tous: este comando sinaliza que os pares devem seguir em frente, geralmente é um dos primeiros comandos do mestre de cerimônia costuma ser esse;

• Anarriê - En arrière: também conhecido como “meia-volta”, este comando sinaliza que os pares devem voltar para trás, voltando de onde vieram;


• Balancê - Balancer: este sinal é dado sempre que os pares terminam um novo comando ou passo da coreografia, ajudando os casais a se alinharem;

• Changê - Changer/Changez: não são todas as festas que costumam usar este comando, ele serve para sinalizar que os pares devem trocar entre si, de forma aleatória mesmo;

• Vis-à-vis: este sinal é para que os casais cumprimentem seus pares, um gesto de elegância que remete à cortesia da original contradance inglesa;

• Otrefoá - Autre fois: as vezes este comando é passando a fim de marcar a coreografia que está adiantada, fazendo com que os dançarinos repitam o passo anterior; e

• Tur - Tour: este comando sinaliza o comando para que os casais deem um abraço, com as mãos no ombro e cintura, e completem com uma volta completa, girando para o lado.

Elementos culturais das festas juninas no Nordeste

As festas juninas no Nordeste são um verdadeiro espetáculo de cultura popular, com uma riqueza de elementos que encantam moradores e turistas. Entre os aspectos mais marcantes estão:

Comidas Típicas: A culinária das festas juninas nordestinas é uma celebração à parte. Pratos como pamonha, canjica, bolo de milho, tapioca e arroz doce são preparados com milho, ingrediente central nas festividades.

Quadrilhas Juninas: As quadrilhas são ensaiadas durante meses e apresentam coreografias complexas e trajes coloridos, refletindo a criatividade e a alegria do povo nordestino.

Fogueiras e Balões: As fogueiras, acesas em homenagem aos santos, e os balões, que iluminam o céu, são tradições que permanecem fortes. No entanto, diferente de Portugal, devido a questões de segurança, o uso de balões tem sido controlado.

Simbolismo Religioso: Além das festividades, as festas juninas também têm um forte componente religioso. Missas e procissões são realizadas em honra aos santos, mantendo viva a devoção popular.

Fonte Bnews

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